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George dos Santos Pacheco [Escritor Brasileiro]


George dos Santos Pacheco nasceu em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, em 07 de outubro de 1981. Desde a adolescência rascunhava histórias em cadernos, mas só tomou coragem de escrever depois de assistir a uma entrevista da escritora Sônia Belloto, onde a autora afirmava que qualquer um poderia escrever. 

Assim surgiu “O fantasma do Mare Dei”, publicado pela primeira vez pela Editora Multifoco, do Rio de Janeiro. É acadêmico de Pedagogia, um dos autores da Coletânea “Assassinos S/A Vol. II”, também da Editora Multifoco.

Tem participado de Desafios Literários propostos em sites, o que lhe rendeu a participação no e-book “Contos Sombrios de Natal”, do fórum literário Fórum Câmara dos Tormentos (atual A Irmandade).

Publicou também um conto na edição do 3º trimestre de 2011 da Revista Marítima Brasileira. Recebeu Menção Especial no VI Concurso de Trovas do Grêmio Português de Nova Friburgo, no tema lírico-filosófico. Blogueiro desde 2009 publica textos na Revista Pacheco, e nos sites A Irmandade, Tertúlia, entre outros.



Em 2013, publicou seus livros "O fantasma do Mare Dei" e "Sete - Contos Capitais" pela plataforma de autoedição do Grupo Saraiva Publique-se!. Ainda neste ano, foi premiado em 1º lugar, na categoria crônica, e em 2º lugar, na categoria conto, no 1º Concurso Literário da Câmara Municipal de Nova Friburgo, Troféu Affonso Romano de Sant'anna.


Sua escrita se caracteriza por um estilo leve, simples e direto. Criador de personagens marcantes como a suicida Suzanne, em “Tarde demais para Suzanne”, o antropófago Barão Malheiros, em “O Jantar de Barão Malheiros”, e o violador de túmulos Edésio, de “O Caso do Violador da Noite”, George, nas palavras de Haron Gamal (professor e doutor em Literatura Brasileira pela UFRJ), “se mostra um mestre no difícil mecanismo de escrever diálogos, conseguindo criar períodos bem estruturados e construções frasais que aguçam a expectativa dos leitores”.


Contatos com o autor pelo e-mail: pacheconetuno@oi.com.br



Livros lançados por George dos Santos Pacheco, ou com sua participação:


O fantasma do Mare Dei


Existem suspeitas que um estelionatário procurado pela polícia embarcará em fuga para fora do país no navio de passageiros Mare Dei, um dos últimos de sua época. Para encontrá-lo foi colocado em seu encalço o jovem detetive Aquiles Balmant. Mas existe um problema. A polícia não tem uma descrição exata do bandido. O detetive não sabia seu nome, nem tinha um retrato falado. Apenas uma descrição fraca do que seria o homem que roubava dezenas de mulheres pelo Rio de Janeiro. Um quebra-cabeça para ninguém por defeito. Ele pode ser qualquer um...



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Assassinos SA - Vol. II


Desde que começou a raciocinar, o homem busca desvendar o que vai pela cabeça de um matador. Tarefa difícil, se pensarmos que cada assassino possui maneiras e motivações diferentes para matar. Logo, não temos como identificá-los, não conhecemos as regras que obedecem, não sabemos o que deles esperar. Suas ações e reações são igualmente imprevisíveis, aleatórias, ocasionais, tal e qual os níveis de sua imaginação doentia e os requintes de sua crueldade.


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Contos Sombrios de Natal  

Natal! Época de paz, de harmonia, de luz... Quando todas as esperanças se renovam e... Esqueça. Nada disso é verdade quando os participantes do Fórum da Câmara dos Tormentos decidem voltar o olhar para o Natal. Essas mentes sombrias da LitFan nacional espreitaram mistérios sob as asas obscuras dos anjos do Natal para transformá-los nas mais nefastas histórias natalinas. Onze contos! Onze mentes sombrias e uma única data.

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Sete - Contos Capitais

Neste livro, os sete pecados capitais foram ilustrados com sete contos – os contos capitais – histórias de pessoas que ultrapassaram os limites da razão no que se refere a esses desvios de conduta. Há nestas páginas um apetite insaciável; ganância; o maior ódio que uma pessoa pode ter; sensualidade; psicopatas; depressão e sangue, muito sangue.


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TARDE DEMAIS PARA SUZANNE

Acordei por volta das sete horas. À contragosto, é verdade. Tomei um banho bem quente - daqueles em que a pele fica avermelhada - escovei os cabelos, pus um vestido chemisier curto negro e mocassins pretos, e fui tomar café. Meus pais já tinham saído para trabalhar e nem saberiam se eu fosse à escola ou não. Acho que não se importavam muito com isso, aliás. Como filha única, sempre tive tudo que quis, nenhuma de minhas vontades era contrariada. Se isso foi bom? Não sei. Acho que sim, mas faltava alguma coisa.

Deixei a louça do café na mesa e fui escovar os dentes. Depois passei um batom bem vermelho e brilhante, e maquiagem nos olhos. Queria me sentir bem sensual neste dia. Não que eu não me sentisse assim habitualmente, mas ese dia seria diferente.

Olhei para minha bolsa com os cadernos. Não, eu não os levaria em meu passeio. E para ser sincera, não notariam minha falta na classe. Sou bonita, sensual, interessante, mas sou daquele tipo de pessoas que passam despercebidas na multidão, e eu não me importo com isso. É, talvez eu me importe um pouco.

Saí de casa sem trancá-la e fui caminhando calmamente rumo ao centro da cidade. No caminho, algumas pessoas corriam, fazendo exercícios, outras liam jornais com as barbaridades mais macabras de todos os tempos do último dia, algumas bebiam nos bares, outras saíam benzendo-se de igrejas e outras tantas sorriam, gargalhavam.

Senti vontade de gritar: Estão rindo de quê?, mas não gritei. O mundo está repleto de guerras, assassinatos, fome e doenças, numa dimensão muito maior do que se pode noticiar. Eu não riria por isso. Tem gente morrendo aos montes nos hospitais e sabe, ninguém parece se compadecer delas. Tem um mendigo logo ali na calçada e as pessoas passa rindo e conversando por ele, como se ele fosse uma pedra, ou árvore, ou qualquer objeto inanimado. Não estão nem aí para ele, acham que ele escolheu ficar na sujeira, que tudo faz parte de um plano maquiavélico para usurpar o dinheiro daqueles que tanto batalharam para tê-lo. Isso é um absurdo! - gritei para mim mesma, e minha voz não deu um passo além de meus dentes.

Tive vontade de chorar. Atravessei a rua abarrotada de carros que buzinavam impacientes e irritados com os outros carros que não se moviam atrás do sinal verde. A buzina é um instrumento mágico que faz desaparecer da face da Terra todo meio de transporte que empacar no trânsito. Mas a desse pessoal aí deve estar com defeito, coitados. Do outro lado da rua havia um casal de namorados, felizes, que se beijavam e também riam. Porque estão felizes? Eu não vejo motivo nenhum para isso. Na primeira oportunidade que ele tiver, queridinha, ele vai te trair. Foi assim comigo, eles são todos assim. 

Um dia eu acreditei em felicidade, no amor. Meu primeiro namorado eu conheci na escola, assim como os outros. Eu queria carinho, eu queria ser amada, mas rapidamente percebi que ele não estava nem aí para minha conversa interessante e meus sentimentos. Me traiu com uma garota de minha turma, uma vagabundinha que deixava ele por as mãos onde eu não deixava. Tudo bem, ele não presta. Os outros também não. O segundo não me traiu - até onde eu sei - mas me largou porque eu não trepei com ele. Eu não estava preparada para isso... Trepar. Que coisa feia, não é mesmo? Mas é assim. Não se trata de fazer amor, carinho, aconchego. É algo puramente carnal, desprovido de sentimentos. Instinto... Foi então que eu decidi trepar, pronta ou não. Trepei com um, dois, três, até que encontrei alguém que valia à pena. Mas ele também me traiu, mesmo eu lhe dando o melhor sexo do mundo, e sendo a namorada mais carinhosa e submissa que podia ser. Ele não tinha necessidade disso, pelo menos racional. Não mesmo. Talvez seja o código genético... Mas eu não quero saber. Desisti deles. Desisti de tudo. A vida é um trem que passa rápido e não pára para ninguém descer. Então resolvi pular...

Atravessei outra rua, já no centro da cidade e entrei em um prédio comercial bonito, bem decorado, que devia ter uns quinze andares. As pessoas entravam e saíam como em um movimento automático, e eu, no meio deles, era apenas mais uma.

Não foi difícil chegar ao último andar e ter acesso à cobertura, que não passava de uma laje com restos de material de construção e caixas de algumas lojas do prédio, expostas ao tempo. Aproximei-me do batente e olhei para baixo. A confusão de gente e carros não se alterava. Desabotoei meu vestido e deixei-o cair, e sentir o vento bater forte em meus seios foi uma sensação gostosa. Os seios dos quais eu sempre me orgulhei e de que nada me serviram.

Dei outra olhada para baixo, e um passo precipitando-me no abismo vertiginoso da morte. Estava numa queda sem volta, em alta velocidade, mas curiosamente, tudo parecia estar em câmera lenta. Vi os pombos voando espantados comigo, as pessoas nos escritórios dos outros prédios. Algumas correndo, outras nos bares... Algumas lendo jornais, outras saindo de igrejas, casais de namorados felizes, gente sorrindo... Tudo parecia perfeito, e apenas eu distoava disso tudo.

As lágrimas brotaram e embaçaram um pouco meus olhos. Como eu queria ser feliz como aquelas pessoas lá embaixo! Como eu queria me amar a ponto de me exercitar e cuidar de mim e do meu corpo! Ler notícias ruins nos jornais, e ainda assim encontrar motivos e força de vontade para mudar tudo! Me divertir com amigos no bar e celebrar as coisas boas da vida. Sorrir! Eu queria sorrir. Queria conversar com Deus, como aquelas pessoas lá embaixo fazem todos os dias. E eu queria ter filhos, e ensinar-lhes tudo isso... Foi nesse momento que vi minha mãe, caminhando distraída na calçada. Oh não! Ela não merece ver isso! Meu coração batia mais forte e meus músculos retesaram. 

Fiz menção de olhar para cima, mas o vento me impedia. O chão já estava bem próximo e as pessoas me olhavam assustadas, apontando o corpo nu que caía do céu, sob a forma de um protesto contra o mundo materialista, apegado ao sexo e ao dinheiro. Eu estava arrependida. A vida é muito preciosa para terminar desse jeito. Mas não havia chance para desistir, era tarde demais para mim...

Fechei os olhos aguardando o impacto. Senti frio, muito frio e abri os olhos novamente. Estava nua sobre a cama, o travesseiro molhado pelos meus cabelos e as lágrimas em que eu havia me debulhado até adormecer. Foi uma noite terrível. Meu namorado terminou comigo ontem, e desde então, sei apenas chorar. Tive vontade de morrer!

Levantei-me cedo, tomei um banho - onde meu pranto era lavado pela água quente - e deitei-me aqui, chorando sem parar. Mas agora que acordei sinto-me bem melhor. Eu o amo, mas não vou me destruir por não me querer mais. Eu não mereço isso, assim como aqueles que me amam de verdade. O que realmente importa não são os problemas da vida, e sim a maneira de lidar com eles. Aliás, ela é muito preciosa para ser desperdiçada de qualquer jeito, e não é tarde demais para um recomeço. Nunca será tarde demais.




George dos Santos Pacheco
Todos os direitos autorais reservados ao autor. 

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