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O albinismo (En)Cena: entrevista com Roberto Bíscaro [Letícia Bender]


O albinismo (En)Cena: entrevista com Roberto Bíscaro

Por Letícia Bender 
Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA


Foto: arquivo pessoal de Roberto Bíscaro


“Eles chamam atenção pela aparência física. Entretanto, são invisíveis nas políticas públicas de saúde e apenas agora começam a chamar a atenção da mídia”, como explica Roberto Bíscaro. Ele é professor de inglês/literatura no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Birigui de São Paulo. É doutor em dramaturgia norte-americana pela USP e é albino. Roberto, em fevereiro de 2009, lançou o blog Albino Incoerente, projeto que deu grande visibilidade a essa causa principalmente no Brasil.


O (En)Cena entrevistou o pesquisador para também conhecer a realidade e as dificuldades do albinismo.


 Foto: arquivo pessoal de Roberto Bíscaro
 
(En)Cena – Inicialmente, como você entende o albinismo? É doença, é condição?


Roberto Bíscaro – A Organização Mundial da Saúde (OMS) define-o como doença, com CDC e tudo, mas prefiro entende-lo como condição que pode levar a doenças. Exemplo, o câncer de pele pode ser evitado tomando cuidados necessários.


(En)Cena – Qual motivo que o levou a escrever o Albino Incoerente?


Roberto Bíscaro – A falta de material em português sobre o tema albinismo e também porque queria reunir a maior quantidade de material sobre o assunto num só lugar. Hoje, o blog é o acervo mais completo sobre albinismo em nosso idioma.

O blog se pretende como central de informações e narrativas sobre albinismo, mas trato de assuntos diversos para atrair públicos distintos, não apenas pessoas com albinismo. Senão, ficaria pregando para convertidos apenas, o que não é producente. Então, posto sobre visão, inclusão, deficientes em geral e até culinária. Também escrevo resenhas sobre cinema, TV, música e literatura para diversificar temas e leitores, mas também para mostrar que pessoas com albinismo podem contribuir para a sociedade; provar que nosso albinismo não nos limita mentalmente.


(En)Cena – E por que "incoerente"?


Roberto Bíscaro – Jogadinha de marketing para atrair leitores. A curiosidade pelo nome faz muita gente visitar a página.

 Foto: arquivo pessoal de Roberto Bíscaro


(En)Cena – No blog há muitos registros de suas viagens para fora do Brasil. Quais são os maiores desafios para um albino no dia-a-dia?

Roberto Bíscaro – Provavelmente a baixa acuidade visual que muitos de nós temos. Além da baixa visão, existe extrema sensibilidade à luz, devido à ausência de pigmentação nos olhos em certos casos, então, imagine a dificuldade. Não poder se expor ao sol também é complicado, porque temos que nos proteger com protetor solar, boné, mangas compridas, guarda-sol, o que seja.

Quando viajo, por exemplo, isso tudo vai na mochila, além de óculos, óculos de sol, enfim, tem que ter uma logística, mas no fim, dá tudo certo se tomamos os cuidados necessários.

(En)Cena – Como instituições governamentais se posicionam quanto ao albinismo? Há alguma ação, projeto que auxilie pessoas albinas?

Roberto Bíscaro – O governo não tem feito muito sobre a questão do albinismo, poderia estar fazendo muito mais. Há um Projeto de Lei em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo, que, se aprovado garantirá distribuição gratuita de protetor solar e óculos a albinos carentes. O autor é o deputado Carlos Giannazi, cuja equipe trabalhou com o blog na elaboração do texto. Projetos similares têm aparecido no país, mas geralmente são vetados depois, pelo Executivo, alegando falta de verbas etc. De certa forma, continuamos invisíveis aos olhos do governo.

(En)Cena – E,  Roberto, como você percebe o preconceito com pessoas albinas? Há muito? Se sim, de quais formas?

Roberto Bíscaro – Existe sim e sentimos isso desde, e principalmente, a infância e adolescência, quando somos apelidados de muitas coisas desagradáveis e daninhas à autoestima. Também há casos de pessoas albinas com dificuldade de obter emprego devido à aparência pouco comum. Por isso, as cotas são importantes para grupos em situação de vulnerabilidade.


(En)Cena – Você, no ano passado, lançou a autobiografia Escolhi Ser Albino, da Editora Edufscar. Qual é a abordagem desse livro? O que os leitores e instituições têm comentado?


Roberto Bíscaro – 'EscolhiSer Albino'é um relato contundente, bem-humorado e sincero da trajetória de um albino que nasceu em um cortiço, mas atingiu sucesso profissional e acadêmico, além de reconhecimento no Brasil e no exterior por meio do Blog do Albino Incoerente. Uma viagem da lama ao lamê.




O livro tem tido excelente aceitação entre os leitores, mesmo e especialmente os não-albinos, que se identificam com a história de superação nele narrada. Todos temos limites, barreiras, sejamos albinos ou não. Então as pessoas se identificam. A página do livro no Facebook está cheia de comentários elogiosos de leitores que me enviam e eu os publico.


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