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Manaus, o lost brasileiro [Jane Uchôa]



Manaus, o lost brasileiro.

O que mais me choca quando viajo para o sul e sudeste é aquela velha pergunta:
" - Mas no norte não tem só índio?""
Ouço isso como se vivêssemos em uma floresta, usando tanga e munidos de arco e flecha. A tanga até que seria bem vinda devido ao calor, mas o arco e flecha não existem faz tempo, muito tempo!
Recentemente em um zoológico de São Paulo (2011), enquanto estava com meu filho numa exposição de cultura indígena, ouvi uma outra mãe dizer para o filho:
"Os índios vivem no norte do país, no Amazonas, eles vivem lá até hoje, é uma cidade que não cresceu".
Não a interpelei por que deu pena. Parecia tão culta do alto de sua tez tão clara e de seus olhos e cabelos claros, características que fazem com que tenhamos cotas para entrar na universidade, pois se pensa erroneamente que os negros e índios são menos inteligentes  ou cultos ao ponto de precisarem de “vagas” destinadas para concorrerem entre si ao nível superior de ensino, longe dos temidos superdotados e famigerados brancos, mas ao ver esta mulher do sudeste, branca, olhos e cabelos claros e, com certeza possuía uma boa formação, pois estava muito bem vestida e seu filho esbanjava saúde pela pele (fruto de boa alimentação), tive este sentimento de pena. Coitada! Não conhece a história de seu próprio país e, o pior, repassa para a geração seguinte.

Já me perguntaram se moro num sítio, se aqui passa a Globo, se tem asfalto, se tem shopping! Juro que eu fico atônita, incrédula, estupefata diante tais perguntas que eu tento de toda forma entender, pois em era de globalização, internet, redes sociais é inaceitável tal ignorância.
Que não conheça a cultura eu entendo, que não conheça a história eu também entendo,  mas daí a pensar que um estado do tamanho do Amazonas com uma capital que é metrópole brasileira, é um sítio onde vivem os índios pendurados em cipós caçando e coletando frutos, aí meu amigo, é pra acabar! Como se fala em bom amazonês.
Manaus desde 1967 viveu seu boom econômico com a implantação da Zona Franca de Manaus, vivemos entre tablets, TVs de LED, ipads, eletroeletrônicos dos mais cobiçados e a preços que só nós temos. Vivemos em uma cidade estrangulada pelo trânsito, pois todo mundo tem carro em Manaus e não tem viaduto, passagem de nível que dê jeito para nossos “carrinhos” que, na sua maioria, são zero km, pois a economia nos permite esta comodidade.
Vivemos em uma cidade consumista! Dinheiro “rola “ muito por aqui! Tudo que se faz vende muito! Na sua diversidade, entre funcionários públicos, empresários, industriários, comerciários e o mercado informal, a cidade oferece para seus habitantes o pão de cada dia.
A explosão demográfica que vem desde 1976, continua. Todos vem em busca do Eldorado, principalmente os paraenses e maranhenses e, aqui, se estabelecem nas zonas norte e leste da cidade, sendo estas  zonas, menina dos olhos do Governo e da prefeitura. São zonas que estão  bem equipadas tanto em saúde quanto em segurança, com sua ronda no bairro (um programa de segurança feito pela policia militar), os maiores hospitais da cidade estão localizados nestas áreas e toda uma infraestrutura é mobilizada para que cresça cada vez mais.
O calor insuportável também rende frutos no comércio. Imagine quanto se vende de ar condicionado e ventiladores? O quanto se vende de sorvetes, água, refrigerantes? O quanto se vende de protetor solar e o quanto os balneários faturam para quem quer se divertir na praia?
Assim é Manaus, com seus shoppings (e eu adoro!!) Teatro, cinema, casas de show, praia, centros comerciais, vida noturna agitada, trânsito louco, empregos na ZFM e mercado informal intenso, uma ponte (PONTE RIO NEGRO) que liga Manaus a Iranduba construída com um orçamento de um bilhão de reais.  Assim é Manaus que abriga calorosamente a todos que aqui chegam!  Com certeza não há mais lugares para índios de tanga vivendo em sítios, nossos índios são modernos, usam jeans e ligam de IPHONE, por que ter IPHONE aqui é coisa comum. Nossos índios se confundem com os nãos índios, mas dão suporte para os que vivem na fronteira onde são bem tratados pelo Ministério da Saúde que dão todo o aparato para que vivam saudáveis.
Por isso tudo senti pena daquela senhora, parecia ter uns 38 anos, mas tão desinformada, vivendo na ignorância que lhe é imposta pela sua discriminação, por achar que por ser Norte e Nordeste de nada servem. Tenho orgulho de ser nortista, paraense de nascimento e amazonense de coração, do carimbó ao boi  bumbá, do açaí ao tambaqui, com acesso ao melhor da tecnologia e sob um sol escaldante!

A vida aqui é boa demais!

Jane Uchôa. Paraense de nascimento, amazonense de coração. Acadêmica de enfermagem, Técnica de enfermagem, socorrista do SAMU, poeta e escritora.

14 comentários

Elisabeth Lorena Alves disse...

Um texto tremendo sobre Manaus e sua diversidade. Um ótimo trabalho de Jane Uchôa.
Com conhecimento de causa, ela fala sobre o Eldorado Brasileiro de forma coesa, magnífica e justa.
Nada de índios de tanga e arco, mas um retrato fiel do que é o Estado do Amazonas e sua capital Manaus.
Na verdade, além de tudo o que ela cita, existem outros preconceitos contra este povo receptivo, que recebe os forasteiros com carinho e sabe tratar as pessoas com seus irmãos. Mano e mana aqui não é gíria, é uma forma carinho de informalidade.
Amei o texto.

Cristina Boanerges de Jesus Fernandes disse...

Excelente! Eu sou do sudeste e realmente, tenho que confessar que não faço ideia de como seja o norte, mas meu coração pulsa e os olhos brilham de vontade de conhecer. Conheço muitas pessoas, amigos que são do norte e me assanham ainda mais a vontade de um dia desbravar terras que para mim ainda são novidade...amei!

Jane Eyre Uchôa disse...

Obrigada Elisabeth e Cris, fico muito feliz por terem gostado. Temos outros textos na revista, muitos textos maravilhosos, obras, divulgações de livros. Boa leitura e voltem sempre. bjs

ROGÉRIO CAMURÇA disse...

Mais um ótimo texto de sua lavra, que desvela um pouco da nossa Manaus. Temos uma metrópole pujante, moderna e acolhedora. E com um sol de rachar. Parabéns.

Anonimo disse...

PARABENS querida jane Uchoa melhor texto não li ate agora sobre minha ou melhor nossa cidade. Pena que alguns de mente pequena vivem achando que nós ainda estamos no tempo passado, amei seu texto e resume em palavras clara e concretas o que é verdadeiramente MANAUS. Abraços

Unknown disse...

Otimo texto Jane, só conhecendo Manaus para expressar em palavras a sensibilidade de viver em Manaus.

Anônimo disse...

O sistema Capitalista está em decadência e comprovamos esta afirmativa ao acompanharmos os noticiários locais e internacionais. A Europa, coração do mundo, está vivendo uma crise sem precedentes e os EUA, a grande potência mundial, também. Desemprego, fome e todas as mazelas sociais se espressam em greves e protestos. Neste contexto, até que seria bom todo mundo aprender a ser índio. Usar os trajes e seu "modus vivendi", afinal, o desemprego e a perda de direitos socias em virtude do ajuste Capitalista tem deixado povos tradicionalmente ricos em miseravelmente pobres. Felizmente, o Brasil atravessa um momento econômico de expansão. mas, até quando??? Nós "indios", que vivemos na 5a. maior cidade brasileirera em arrecadação, gozamos de prerrogativas que beneficia a maior parte da população local , em virtude do aquecimento economico ,o de poder adquirir um sem numero de tecnologias. Infelizmente já vivenciamos as mazelas dos grandes centros, assaltos, insegurança, poluição e dequilibrio da mãe natureza. Ai que saudade do arco e da flexa... ai que saudade de voar livre de cipó em cipó trazendo na alma o sabor da liberdade. Ser índio no mundo de hoje , longe de ser algo pejorativo, é sim... sinônimo de ser feliz, sem contas a pagar e viver no prazer de não ter hora pra acordar e ter de trabalhar de sol a sol pra gastar dinheiro com planos de saúde caríssimos e ser mal atendido. Realmente, Jane Uchôa é de lamentar a iguinorância cultural dos falsos burgueses do sul!!! Gostei do texto, alíás como sempre, pois o que escreves o fazes com alma. Um grande beijinho amiga querida...Livete Brito

Anônimo disse...

Jane, meu projeto para a Copa do mundo vai mostrar o Brasil como ele é de verdade. O Brasil não é so o eixo Rio-SP, a diversidade cultural do Brasil vai ser conhecida pelo mundo me acredite!Obrigada você pelo texto vou compartilhar com gosto!Leda Maria.

Anônimo disse...


Muito bacana a sua defesa por Manaus, que ainda é para muitos que moram no Centro Sul do Brasil uma maloca de índios que andam pelas ruas de Manaus com onças e preguiças a tira colo. É uma pena que essa mentalidade ainda exista em pleno séc
ulo XXI. Essa falta de informação é inaceitável nos dias atuais em plena era da informatica, onde qualquer criança sabe que Manaus é capital do Estado do Amazonas. Meus parabéns, amiga Jane Uchôa pelo seu afinadíssimo texto de fácil compreensão. Faz tempo que não leio um texto tão bem escrito sobre a cidade de Manaus que vive um calor infernal, mas que não deixa de ser sedutora e encantar a todos com seu charme natural.Marius Bell

DoCarmo disse...

Grande texto, Advogada de Manaus. É preciso saber o que diz, antes de assumir esse compromisso. Pena que pessoas de outros estados ainda não tenham essa capacidade. Parabéns, texto muito bom, aliás, faz jus capacidade lúcidade que tens de escriturar.

Jane Eyre Uchôa disse...

Obrigada pelo carinho pessoal. Falar de Manaus é um prazer, minha cidade acolhedora, linda e quente. Precisamos sair do lost, para que o mundo saiba que aqui temos um mundo muito gostoso de se viver.

Tobias Mota Lopes disse...

Jane, parabéns por esse texto tão esclarecedor, é um favor que faz a todos leitores, obrigado!

Fiquei chocado com a atitude da moça em relação ao norte. Eu sou mineiro, moro em BH atualmente, mas fui criado no Paraná, en Foz do Iguaçu. E impressionante como os brasileiros não conhecem seu país, para eles aqui o sul é tudo a mesma coisa e o pior é quando confudem Paraná com Pará, PQP!!!
Bom, concordo com você em relação ao padrão dos universitários brasileiros, pena que se vangloreiam por uma ilusão, as nossas Universidades emburrecem as pessoas, são formadoras de um bando de robôs e plagiadores, as Universidades acabam com a criatividade dos alunos, e é apenas um ambiente onde as pessoas buscam massagear seus egos.
A cultura e a informação são produzidas em laboratórios para depois serem vendidas. A idade média emburreceu as pessoas, hoje a idade mídia faz o mesmp. E um blog como esse, onde vemos pessoas sinceras sem interesses comeciais abordando temas tão importante é o que nos motiva: os livres pensadores a caminharem. Pois, embora fiquemos perplexos com a falta de informação em plena era da idade mídia, é importante frisar, que afinal: a história verdadeira é a de quem paga mais.

Jane Eyre Uchôa disse...

Oi Tobias!! prazer tê-lo por aqui em nosso espaço, seja muito bem vindo e a casa é sua!! Gostei muito do que vc falou em relação a Universidade, realmente tem toda razão, eu sou finalista agora em 2013 e sofri horrores dentro da sala de aula, quase perdi minha identidade poética, artistica e intelectual, minha criatividade foi encostada na parede e quase que fuzilada, felizmente sou uma pessoa madura e sobrevivi aos ataques rsr. Mas vou fazer melhor, quando formar usarei todo o meu potencial aliado ao meu conhecimento para realizar o meu ofício, acredito muito no artistico, no lúdico e na veia cômica para ensinar, ditar normas e seguir protocolos e padrÕes está fora de meus propósitos, tenho personalidade forte e graças a minha idade muitas vezes não fui prejudicada. E quanto as confusões entre o que é sul e o que é norte acho incrivel como a mídia tem o poder de influenciar em diversos aspectos porém, quando se trata de conhecimento, investimento intelectual, arte e informação a coisa cai vertiginosamente, como você disse a Idade mídia virou comércio mesmo a vez é de quem paga mais e aparece mais. Amei vc por aqui, volte sempre, pessoas inteligentes como vc precisam se unir para que a desvalorização não tome conta do nosso país. bjsss

Edna disse...

Algumas pessoas dizem tudo e não sabem de nada. Assim são os que se intitulam sábios intelectuais.