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"Que farei com este livro?" [Robson Veiga]

"Que farei com este livro?"

Tal indagação que temos por título, é a denominação da segunda peça teatral escrita pelo único prêmio nobel em literatura, José Saramago, editada em 1980, em comemoração aos quatrocentos anos da morte do maior poeta lusitano de todos os tempos, Luiz Vaz de Camões.
Nesta peça, Saramago brinca com as palavras ao relacionar o real ao ficcional, marca registrada em seus escritos literários, numa "reflexão que não se exaure diante do que não está explicado", como postula a professora Cínthia Renata Gatto Silva, amante e pesquisadora das inquietudes saramaguianas - fazendo surgir através da pena um Camões desconhecido, que traz no bojo apenas "papéis com versos", não aquele em bronze postado na praça em Lisboa, mas um Camões que fala, que tem voz e autenticidade, ambientada nos últimos três anos que antecederam a publicação do célebre poema épico, Os Lusíadas, após o retorno do poeta lusitano da Índias.

Saramago apresenta nesta peça, uma das cinco produzidas por este escritor ao passear pelas veredas da dramaturgia, ao tematizar a publicação da obra de arte num mundo coberto pela censura e a inquisição, a representação histórica e biográfica de Camões, por onde o leitor/espectador é convidado, pela via da ironia que se abre na obra, a "promover uma reflexão sobre o presente, a partir de uma reavaliação do passado", segundo o professor e pesquisador Cláudio de Sá Capuano, nome respeitado na atualidade em relação à dramaturgia saramaguiana.

A mesma indagação que fizeste o Camões saramaguiano no palco foi também a mesma que ouvi de certos colegas num certo dia quinze de outubro, ao receber de presente da Secretaria Municipal de Educação um belo livro sobre práticas pedagógicas em sala de aula, "Hum, logo um livro, porque não colocaram um abono pra gente na conta, afinal, que farei com este livro?".

Uns, após o evento esqueceram o livro em cima da mesa, outros o levaram pra casa e o prensaram na estante, uns mais ainda deram as crianças a brincar no quintal, e alguns poucos o jogaram na primeira lata do lixo. Raríssimos foram aqueles que leram suas páginas. E isto não é uma lenda, é um fato, uma constatação, que aconteceu, e poderia acontecer, e como bem acontece em todas as escolas brasileiras, seja pública ou particular.

Infelizmente os profissionais em educação não se interessam muito pelo ato de ler, ainda mais quando a leitura tem alguma coisa a ver com suas próprias práticas diárias. E antes que alguém se esbraveja com o texto, lembremos que toda regra tem exceção.

Quanto à literatura, deixemos pra lá. Arte é coisa não muito levado a sério em ambiente escolar, e quando há, apenas pra matar o tempo, pois arte ainda é encarado como alguma coisa de quem não tem o que fazer.


Robson Veiga - Mestrando em Literatura e Crítica Literária pela PUC de Goiania-GO. Página pessoal na internet: Café Literário. 
Todos os direitos autorais reservados ao autor.

Um comentário

Tatiana Carlotti disse...

Robson, valeu pela dica. Fiquei morrendo de ler aqui. Bjs, Tati